quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Escravidão no Brasil: Trabalho e Vergonha.

Desde os primórdios do dito descobrimento do Brasil, que uma massa representativa de pessoas vem sendo mantidas sobre intensa exploração de mão-de-obra. Pessoas inocentes arrancadas de seu convívio familiar eram obrigadas a trabalhar a troco de muito sofrimento. De acordo com Argemiro J. Brum, autor do livro Desenvolvimento Econômico Brasileiro “nas atividades econômicas principais voltadas à exportação, como a açucareira, a aurífera, de algodão, de tabaco e, mais tarde, do café, a mão-de-obra escrava foi constituída basicamente de negros transplantados da África, ao longo dos mais de trezentos anos entre 1540 e 1860, em que se praticou o tráfico negreiro”.

Os castigos corporais eram comuns, permitidos por lei e com a permissão da Igreja. De acordo com o regimento de 1633 das Ordenações Filipinas que sancionaram a morte e mutilação dos negros escravos, “o castigo era realizado por etapas: depois de bem açoitado, o senhor mandava picar o escravo com navalha ou faca que cortasse bem e dar-lhe com sal, sumo de limão e urina e o metia [sic] alguns dias na corrente, e sendo fêmea, era açoitada à guisa de baioneta dentro de casa com o mesmo açoite”. Estudos comprovam que mediante a tanto castigo, a média de vida dessas pessoas, principalmente homens, não passava dos 18 anos e que a taxa de natalidade era cada vez menor entre as mulheres devido a tais condições a que eram expostas. Além dos castigos já informados, outros também eram cometidos como, retalhamento dos fundilhos com faca e cauterização das fendas com cera quente; chicote em tripas de couro duro; a palmatória, uma argola de madeira parecida com uma mão para golpear as mãos dos escravos, além do pelourinho, onde os escravos ficavam com as mãos presas ao alto e recebiam lombadas de acordo com a infração cometida.

Um dos registros mais antigos que existe, data de 1533, no qual Pedro Góis pedia ao rei de Portugal mais “17 peças” de escravos. E estima-se que até 13 de maio de 1888 (data da Abolição da Escravatura), dentre uma população de cerca de 6 milhões de habitantes, 700 mil pessoas ainda viviam em regime escravo, mas de acordo com informações, o dobro dessas pessoas já havia conseguido sua liberdade seja por fugas isoladas, passando pelo suicídio ou pelo banzo (nostalgia que fazia o negro cair em profunda depressão o levando à morte) e pelos quilombos. O maior e mais duradouro foi o quilombo dos Palmares, surgido em 1630 em Alagoas, estendendo-se numa área de 27 mil quilômetros quadrados até Pernambuco. Desenvolveu-se através do artesanato e do cultivo do milho, feijão, mandioca, banana e cana-de-açúcar, além do comércio com aldeias vizinhas. “Os quilombos eram numerosos em todas as partes do país e os brancos proprietários viviam em clima de pavor contra possível reação da população livre escravizada. Mesmo porque, nem todos os brancos apoiavam o regime criminoso do escravismo. Pelo contrário, muitos deles se uniram aos negros para lutar contra o regime”, conta Henrique Cunha Júnior professor da Universidade Federal do Ceará.

Em se falando de Abolição da Escravatura, segundo Júnior, é errado dizer que foi a Princesa Isabel quem libertou os negros da condição em que viviam, “decidido o fim do escravismo, o Estado brasileiro saia da situação de criminalidade contra a humanidade que se mantinha até então. Logo, em 13 de maio de 1888 a lei foi assinada. Portanto, não foi princesa nenhuma que deu liberdade aos negros. A liberdade foi uma conquista da população brasileira, uma vitória dos movimentos populares. Temos assim, uma confirmação de que governantes estavam criminosamente errados e neste dia, o erro foi abolido”. Ainda segundo o professor “a lei de 13 de maio foi incompleta, poderia ter resolvido problemas nacionais dos quais até padecemos como é o caso da reforma agrária e do acesso das populações a terra. Poderia ter promovido uma repartição da renda retornando aos ex-escravizados, através de políticas o que nos seria de direito. Visto não ter sido feito, o país até hoje sofre destes erros”.

“O Brasil foi o país onde ocorreu o mais amplo e prolongado processo de escravidão nos tempos modernos” afirma Argemiro J. Brum. Ele ainda ressalta que foi basicamente a força do trabalho escravo que construiu o país ao longo de quatro séculos e que infelizmente o escravo era tido com objeto e não como pessoa física e sua mão-de-obra era tida como mercadoria que poderia ser trocada a qualquer momento e é daí que vem hoje a desvalorização do trabalho principalmente braçal dos menos afortunados sejam eles negros ou não.

Muito mais do que Projetos que favoreçam negros, pedidos de desculpas ou tantas outras manifestações, é preciso que o país recorde a imensa contribuição do negro mesmo escravo, na formação de várias manifestações culturais, religião, enriquecimento da língua e costumes e que só não serviram de alavanca para o avanço do Brasil porque essas pessoas eram tratadas como “coisas ou animais” impedindo-as de se manifestarem no processo de formação da nação e da realização de um projeto histórico próprio.

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