quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Autopreconceito"

Acho inacreditável quando encontro pessoas que, de alguma forma, têm preconceito contra si mesmas. Sim, isso existe e não é raro. Quem nunca viu uma mulher machista, ou um negro que não assume a sua cor?
Parece um absurdo, mas isso é mais freqüente do que muita gente imagina.

Não é raro encontrar essa espécie de atitude com relação a tatuagem; pessoas que possuem duas coisas que parecem não condizer: tatuagem e preconceito contra tattoo. Tendo em vista que uma tatuagem é algo que se adquire voluntariamente, não consigo realmente compreender esse tipo de atitude e pensamento. Observo, apenas. E agora relato parte disso a vocês.

É bastante comum pessoas que procuram o estúdio para fazer uma tatuagem, mas durante todo o tempo fazem questão de deixar bem claro que “é a primeira e única”, como se estivessem fazendo alguma coisa errada, como se tivessem medo de voltar e fazer novamente, o que seria inadmissível, como quem diz “estou me desviando do caminho mas será somente uma vez...”
(Eu apenas sorrio: “eu também comecei com uma”, hahahahahha.... Tento sempre manter meu bom humor...)

“Quero fazer uma só, bem pequena e escondida, afinal, eu faço enfermagem (ou qualquer outro curso)”. Na verdade, esse tipo de temor indica uma espécie de preconceito que a própria pessoa tem, mas que não assume. Porque, cá entre nós: já viram algum hospital ou mesmo clínica onde os médicos e enfermeiros trabalham sem camisa ou de bermuda, mostrando costas, braços e pernas – locais mais comumente tatuados? Então, que diferença faz, se for pequena ou não? “mas é que pra um médico pega mal”...

Quando o preconceito parte de pessoas não tatuadas, penso que é apenas ignorância. Mas quando vem dos próprios tatuados, aí sim, a coisa se torna realmente estranha.

De uma vez, presenciei uma cena da qual nunca me esquecerei: foi o cúmulo do “autopreconceito”, um ótimo exemplo ilustrativo. Uma mulher, muito jovem e bonita por sinal, me procurou porque queria uma tattoo. Tinha que ser pequena e bem escondida, porque ela tinha uma filhinha. “E daí?”, talvez vocês se perguntem. E daí que “já pensaram quando ela crescer, se descobre que a mãe tem uma tatuagem?” Foram suas palavras. “Seria até bom”, pensei, “porque assim sua filha cresceria com o conceito de que tatuagem é uma coisa normal, que pessoas normais levam no corpo.”

Fico imaginando o que se passava na cabeça desta pobre mãe, acho que ela realmente acreditava que quem tem uma tatuagem passa a ser uma pessoa menos digna de confiança e respeito, mais mau-caráter. Talvez ela ache até mesmo que é marca de marginal, prostituta ou viciado. Será que ela acredita que o simples fato de uma mãe ter tatuagem compromete a criação e educação de seus filhos?
Talvez ela tenha tido medo que a filha visse nela um (mau) exemplo a seguir...

Sei que algumas pessoas, ainda nos dias de hoje, pensam assim. O que não consigo de forma alguma é compreender porque elas se tatuam... Seria por modismo, por admirar alguém que tenha tattoo e de alguma forma querem se identificar com essa pessoa? Deve haver uma grande luta interna entre seu desejo e seu preconceito arraigado, uma parte que quer e outra que condena.

Bem, tomara que, depois de algum tempo, essa mulher pense um pouco sobre isso, percebendo que seu caráter e personalidade permanecem o mesmo depois que marcou a pele com tinta, e que nessa luta interna, o bom senso vença o preconceito... realmente espero, pelo bem estar dela... porque deve ser muito triste fazer algo que é para o resto da vida e nunca se acostumar com aquilo... para uma pessoa “normal”, depois que se faz, uma tatuagem passa a fazer parte de si, mas e essas outras?... como será sua relação sentimental com a marca na pele? Acredito que algumas se acostumam, devem mesmo mudar um pouco o modo de pensar (ou não), mas creio que outras, passado um certo tempo, se arrependem amargamente...
De qualquer forma, acho que em algum momento terão que pensar um pouco sobre seus motivos e preconceitos, seja conscientemente ou não.

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