sábado, 21 de novembro de 2009

Djalma Santos sofreu restrições devido a preconceito racial

Na data em que se comemora o "Dia da Consciência Negra", o JORNAL DE UBERABA procurou ouvir o bicampeão mundial Djalma Santos, 80, um dos principais símbolos da história do esporte mundial. O primeiro jogador negro a vestir a camisa do Palmeiras, em 1959, falou sobre a importância do feriado e situações de preconceito racial que vivenciou dentro e fora dos gramados. E ainda revelou à equipe de jornalismo os projetos para o futuro e a esperança de um dia se aposentar.
O ex lateral-direito começou a carreira em 1948, na Portuguesa. Três anos mais tarde, ele e todo o elenco do time paulista foram disputar uma partida na Suécia. Naquele ano teve sua primeira experiência com o preconceito racial. "A gente chegou na Suécia e as crianças passavam a mão na gente para ver se desbotávamos. Mas isso foi normal, pois no país só tinham brancos", relata Djalma.
Foram quatro Copas do Mundo disputadas (1954/1958/1962/1966), mas foi na segunda, em 1958, que obteve grande destaque. Na final, entrou no lugar do titular De Sordi, contundido, e em apenas noventa minutos foi eleito o melhor jogador da posição no Mundial. No ano seguinte transferiu-se para o Palmeiras. A mudança de time representou a quebra de um tabu histórico. "Na época eu tinha propostas do Corinthians e do Fluminense, mas optei pelo Palmeiras por que tinha amigos lá. O problema foi que recebi várias ligações dizendo que eles não aceitavam negros no time. Mas o preconceito está presente é nas pessoas. Fui o primeiro negro a vestir a camisa do Palmeiras, onde fiquei por mais de dez anos. Até hoje tenho o reconhecimento do clube", afirma Djalma.
Situações de preconceito com os amigos também foram presenciadas. "No Palmeiras eu tinha um amigo negro que era o Ademar Pantera. Ele aprontava com todos os funcionários. Uma vez fomos a uma festa do time e ele foi barrado. Disseram que ele não foi convidado", relembra Djalma.
Antes de encerrar a carreira, aos 42 anos, pelo Atlético Paranaense, em 1972, Djalma disputou mais de 100 partidas pela seleção brasileira. Nos confrontos contra a Argentina, as ofensas eram inevitáveis. "Todo argentino provocava a gente. Em todos os lances da partida havia uma ofensa. Mas isso fazia parte e era relevado. Era coisa do momento", diz Djalma.
Com mais de dez títulos no currículo e sem nenhuma expulsão, em 23 anos de carreira como atleta, ele acredita que o feriado do "Dia da Consciência Negra" é importante, mas a comunidade afrodescendente de Uberaba deveria se unir. "Os negros daqui precisavam se unir mais. Até nos Estados Unidos um negro foi eleito presidente", afirma.
Sem deixar o futebol de lado na sua vida, um projeto com crianças da cidade será relançado. "Nos próximos meses vamos voltar com a escolinha de futebol. Desta vez, na AABB. Esperamos atender mais de 4.000 crianças e adolescentes", revela. Ele ainda atenta para um grande problema que os jovens estão sofrendo. "Os campos de bairros estão acabando. Os jovens só ficam no computador e no video game. Assim, o Brasil poderá deixar de ser o país do futebol".
Djalma relembra que em sua época cada time possuía pelo menos cinco jogadores em nível de seleção, o que não acontece hoje em dia. "O futebol naquela época era muito melhor", diz. Ele ainda faz questão de citar um nome importante para o futuro do do futebol brasileiro. "O Nilmar é um bom jogador. Ele é novo. Se não perder a cabeça, terá tudo para brilhar", afirma ao relembrar casos como o de Garrincha, que se perdeu na vida por não ter sido bem orientado.
Com a alegria sempre estampada, o grande campeão teria motivos para não estar sorrindo. Aos 80 anos, ainda não se aposentou. Situação que deixaria qualquer brasileiro revoltado? Sim, menos ele. "Ano passado eu conversei com o Lula e ele me prometeu a aposentadoria. Até agora nada", revela Djalma, em tom de brincadeira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário